sexta-feira, 23 de abril de 2010

Textos para o curso de Interpretação bíblica - IB Heliópolis Pág. 10


Modelo de interpretação histórico-social (O que o autor disse)

1. O texto das Escrituras é resultado de um processo de revelação e inspiração, circunscrito histórico-socialmente e delimitado por um cânon tradicionalmente acatado.



2. A interpretação histórico-social da Bíblia posiciona-se favoravelmente à intentio auctoris (A INTENÇÃO DO AUTOR). O texto bíblico que tem diante de si representa o registro daquele acontecimento. A interpretação histórico-social não prescinde do evento – não o substitui pelo texto, como se a intentio operis se lhe bastasse. Busca compreender desde as circunstâncias condicionantes em que o evento se deu. Nesse sentido, não é a letra que lhe interessa, mas a vida registrada na letra – o acontecimento histórico-social consignado no texto.

3. Por outro lado, o evento extinguiu-se – resta o texto. O texto, portanto, é a ponte entre o leitor e o evento, i. é, entre o horizonte onde se produz a leitura e o horizonte onde se produz a escrita. O autor, seu contexto, suas intenções e seus condicionamentos, seu tempo e lugar, seus destinatários, se é aí onde pretende chegar a leitura histórico-social da Bíblia, é a partir do texto, no entanto, que deve começar. Nesse sentido, o texto é preciosíssimo, incontornável, prioritário.

4. A prioridade do texto implica em alguns passos metodológico:                        
           a) compreender palavra a palavra a partir da visão do próprio texto. Trata-se de um exercício de reconstrução. O círculo hermenêutico está representado pela condição de que o sentido de cada palavra do texto prende-se ao sentido do texto como um todo, ao passo que o sentido do texto integral deriva do conjunto dos sentidos das palavras que o compõem. Trata-se de uma relação sintática e hermenêutica.

b) compreender os conjuntos mínimos de idéias constituídas pela frase. Trata-se da abordagem sintática. Enunciados de idéias são apresentados em formações sintáticas menores. A soma dessas unidades constitui um enunciado estrutural. Na prática, consiste num esforço metodológico de compreensão das palavras, das frases e dos parágrafos, sempre a partir do próprio texto e – jamais, a partir do horizonte semântico do leitor.
 c) nesse processo, deve o leitor fazer um esforço por calar-se. Trata-se de um silêncio metodológico – são os seus conceitos que devem ficar quietos, não sua consciência. Esta deverá estar atenta, com rigor, ativa, fazendo as perguntas necessárias ao texto. Mas sua visão de mundo deve dar lugar ao esforço voluntário e honesto, metodológico e rigoroso por compreender a visão de mundo do texto – a saber, do horizonte em que a grandeza autor se insere e a partir da qual fala.
d) segue-se o esforço por identificar os blocos de idéias. Os enunciados caminham para a formação de blocos de idéias. Todos textos bíblicos constituem-se sob estruturas específicas, que se traduzem na forma de blocos sintático-semânticos de idéias que se interrelacionam.

e) deve-se perguntar pela relação entre os blocos de idéias. Tais blocos constituem, cada um segundo sua função sintática, as seguintes peças do texto: idéia central; idéias secundárias; argumento central; argumentos secundários. É dever do leitor identificar rigorosamente tais peças. Sem isso, é impossível, por exemplo, resumir o texto.
f) deve-se perguntar, sempre, qual a relação entre as palavras, a frase, os parágrafos, os blocos unitários de idéias e o texto como um todo com o evento por detrás do texto. Não é o texto em si, mas o evento, em última análise, que está sendo perscrutado. É um homem que fala. Que fala ele? Por quê? Para quê? Para quem? Quando? Onde? Como? Quem representa? Que pensa de Deus, do homem, do mundo, da vida? São essas perguntas as perguntas que, a seu tempo, devem dirigir a compreensão do texto. O texto é meio – não fim.
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Prof. Dr. Oswaldo Luiz Ribeiro (http://www.ouviroevento.pro.br/teologicofilosoficos/hermeneutica_e_interpr.htm#_ftn10).



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