sexta-feira, 23 de abril de 2010

Textos para o curso de Interpretação bíblica - Pag 12


Uma palavra papal contra a exegese crítica — e considerações...

O aparecimento do método histórico-crítico inaugurou uma nova época na história da interpretação bíblica. Com este método surgiram novas possibilidades de compreender o texto bíblico em sua originalidade.
Como tudo o que é humano contém também este método, ao lado de suas possibilidades positivas, certos perigos:
(1) a busca do sentido original pode levar a se reter completamente a Palavra no passado e a não permitir que seja percebida em sua atualidade.
(2) Com isto pode deixar somente a dimensão humana da Palavra aparecer como real, enquanto o autor mesmo, Deus, encontra-se fora do alcance, por se tratar de um método que foi elaborado precisamente para a compreensão das realidades humanas.
(3) O emprego de um método « profano » na Bíblia deveria provocar debates:
   a) Tudo o que ajuda um melhor conhecimento da verdade e uma disciplina das próprias representações é útil e valioso para a Teologia. Neste sentido deve este método encontrar acolhida no trabalho teológico.
   b) Tudo o que limita nosso horizonte e nos impede de olhar e escutar o que está para além do meramente humano deve ser rompido.
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 Prefácio do (à época) Cardeal JOSEPH RATZINGER (atual Papa Bento XVI)
 ao documento “A interpretação da Bíblia na Igreja”

COMENTÁRIO

Ratzinger flerta com o inimigo. Ciência é fé não são amigos muito chegados. Se conhecem e se respeitam, mas cada qual no seu devido lugar.
Não creio que os homens usem o método histórico-crítico e saiam ilesos da interpretação.
Isso é contrário à própria natureza do método, que visa usar o texto como meio e ter no fim uma hipótese... Algo transitório e, por isso, aberto a novas compreensões.
Nós flertamos com o inimigo... Mas temos que correr os riscos, porque vivemos num mundo racional e científico. Não há outra forma de abordar a Bíblia em busca da reconstrução histórico social que não seja científica e, por isso, crítica.
Muitos resultados desse método são o que Umberto Eco chama de “superinterpretações”, ou seja, leituras inadequadas de uma obra ou texto, más interpretações.
A verdade que procuramos no texto está, em última análise, relacionada à fé, pois é dirigida a Cristo... Sabedoria de Deus...


TEXTO DE FECHAMENTO DO CURSO



Um amigo dos tempos do Seminário, hoje Doutor em Teologia, bate na tecla de que devemos ouvir o evento... Para ele, o texto é um meio, isto é, uma ponte para que o leitor indague e escute o que foi dito (escrito) — É a interpretação que privilegia a intentio auctoris.
Há aqueles que acham essa tarefa impossível e, de modo estruturalista, trabalham a interpretação privilegiando a intentio operis, ou seja, o texto substitui o evento e se basta a si mesmo.
Há, também, aqueles que interpretam a partir de suas próprias ideologias, é a intentio lectoris, ou seja, a intenção do intérprete (leitor), como aparecem nas leituras interpretativas de gênero (por exemplo, feministas), de raça, ecológicas etc.
Penso que há ciência nas três abordagens, há método nas três abordagens e, também, há valor nas três abordagens.
Eu leio (interpreto) o texto como forma de me comunicar com Deus e ouvi-lo falar comigo, indagar-me, impelir-me em direção à sua vontade. Para fazer isso, valho-me da intentio operis. Entendo que a Bíblia é a Palavra divina para mim, e, com auxílio do Espírito Santo, autoridade sobre mim: Deus vai falar.
Mas leio (interpreto), também, como forma de saber como Deus falou com os homens, por meio dos escritores inspirados. Esse esforço de voltar e indagar “quem disse o quê para quem com que propósito e por quê”  é intentio auctoris.  Algo muito difícil de fazer e de resultados, por vezes, inconclusos. Mas não desanimo facilmente.
Como quem lê (interpreta) sou eu, Davi, minha leitura é única e completamente pessoal. Eu interfiro na interpretação pelo simples fato de ler, e minha formação e caráter estão por detrás de cada aproximação que faço da Bíblia. É a intentio lectoris em ação.
Eu aprendi , há tempos, que, em se tratando de Bíblia, preciso me calar... Preciso ouvir... Preciso obedecer... E você, já aprendeu?  Que Deus nos ajude...
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Pr Davi freitas de Carvalho
JUERP, RJ
Maio de 2010


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