quinta-feira, 29 de abril de 2010

Diálogo e Ação - 2 de maio - Lição 5 (Temas para discussão em classe)


(Temas para discussão em classe)

Seguindo a sugestão de uma sábia adolescente de Queimados chamada Raquel, eis alguns temas que podem nortear debate ou discussão em classe, no próximo domingo.

Lição: A surpresa dos sete Selos
Apocalipse 5.1-14; 6.1-7; 8.1-5

Temas para serem desenvolvidos pelos alunos, sob a forma de debate ou discussão:

1) Selo na Bíblia é imagem para
a) Propriedade
b) Pureza de conteúdo (conteúdo não adulterado)

Discussão: 
O que nos dá a certeza de sermos "propriedade de Deus"?
Uma das palavras bíblicas para indicar essa propriedade é "servo" ou "escravo". Como se dá essa relação de servidão do crente com Deus?

2) A abertura dos selos é no Apocalipse uma descrição vívida de uma sequência de graves acontecimentos que hão de ocorrer antes da volta de Cristo. Que exemplos podemos perceber desses "sinais" do fim nos dias atuais?

3) Estar "selado" por Deus é o mesmo que "protegido". De que e de quem Deus nos protege hoje? 

4) A abertura do sexto selo aponta para o juízo divino sobre o pecado.Quem haverá de passar por esse escrutínio (juízo)?

5) O sétimo selo é descrição de uma pausa (interrupção) para anunciar outra sequência de visões: as sete trombetas. Como se dá essa pausa para reflexão diante de Deus hoje?


Observação: Se todos os alunos leram e estudaram a lição, essas perguntas e a dinâmica de discussão deve ocupar quase todo o tempo da aula. Mas se a lição ainda precisa ser apresentada, melhor seria escolher uma ou duas apenas.

Abraços,

terça-feira, 27 de abril de 2010

Sugestões para reunião de planejamento na União de Treinamento

A realização da reunião pedagógica é imprescindível ao bom andamento do trimestre na União.
As atividades previstas são:
estudo, 
reflexão, 
troca de experiências, 
avaliação do trimestre anterior
e redirecionamento da proposta de trabalho.

A apresentação da visão panorâmica da Unidade temática em estudo tem as seguintes partes:
   1) abordagem dos conceitos principais
   2) e levantamento de questões para aprofundamento.

Se possível, participe da rRealização de cursos que explorem aspectos relacionados à atuação docente, nas seguintes áreas:
interpretação bíblica; 
metodologia de ensino, 
preparação de planos de aula; 
aprofundamento teológico.

Faça um esforço com os alunos e demais departamentos da igreja para a organização de uma biblioteca básica, adquirindo, pelo menos, a cada período, um comentário bíblico a respeito do assunto em estudo. Estimule os juniores a ler e, também, leia com eles, comentando peças literárias.

Faça bom uso dos materiais complementares que lhe forem destinados pela coordenação de educação da igreja:
textos e materiais complementares, 
extratos de comentários bíblicos que possam esclarecer o texto a ser estudado.

Por fim, planeje os seus passos durante o trimestre e, também, os dos alunos (tarefas e afazeres na igreja e em casa). Se possível, pelo menos, uma tarefa de campo deve ser executada por eles.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Curso de Interpretação Bíblica - IB Heliópolis - 2010

Objetivos e metas

· Oferecer capacitação técnico-teórica indispensável para o crente ler e compreender as Escrituras.
· Entender o processo da interpretação bíblica
· Comparar versões da Bíblia
· Utilizar a metodologia histórico-gramatical para a interpretação bíblica
· Conhecer e utilizar as ferramentas de interpretação bíblica
· Identificar os objetivos da interpretação bíblica
· Realizar um laboratório de interpretação bíblica no Novo Testamento.

Dias 4, 11, 18, 25 de maio de 2010.
Horário: 19h00 às 21h30
Taxa de inscrição: RS10,00. 


Contatos, por email:
anastaciaraul@gmail.com
Educadora Religiosa: Anastacia Monteiro Raul Lima 

Texto de abertura do curso de interpretação - IB Heliópolis

E DISSE DEUS: HAJA!

No Jardim do Éden, Deus falava com suas criaturas e era por elas ouvido. Deus ouvia suas criaturas e com elas se comunicava. A palavra falada, que tudo trouxera à existência, possibilitava o relacionamento entre Deus e o homem.
Em sua onisciência, Deus preparou um povo para dar forma escrita à revelação. Os hebreus, comandados pelo legislador Moisés, tiveram a honra de preservar a Palavra de Deus nas tábuas de Pedra que continham os Dez Mandamentos. Mantinha-se, na relação de submissão e obediência à Palavra de Deus, toda a esperança de vida feliz e abençoada para o homem.
Com o passar do tempo, a coleção de livros aumentou. Passou a conter um amplo código legislativo para dirigir a vida religiosa e social do povo, mas, também, cânticos e poesias que alimentavam a devoção e o culto, narrativas de identidade nacional e, durante os tempos difíceis, profecias de advertência e de esperança: estavam reunidos os livros que compuseram a divisão conhecida como Antigo Testamento.
À época de Jesus, os cristãos tinham em suas mãos o Antigo Testamento, que era lido no templo de Jerusalém e nas inúmeras sinagogas judias, por eles frequentados. Jesus ia regularmente ao templo e lá, também, ensinava. Seu ensino era simples: ele veio para cumprir as profecias e trazer vida aos homens. 
Depois da morte, ressurreição e ascensão de Jesus, seus seguidores começaram a estabelecer intensa comunicação entre si, por meio de Cartas. Paulo, Pedro, Tiago e João e Judas são os nomes apostólicos que usaram este processo. Os Evangelhos e Atos foram escritos, também, por essa época e, mais tardiamente, o Apocalipse de João.
A formação do Novo Testamento, como coleção de livros, levou cerca de 400 anos para ser completada. Deus nos ofereceu a Bíblia para que possamos crer. Na hora da leitura da Bíblia, essa é a atitude esperada pelo Senhor. Por meio da relação íntima com a Palavra de Deus, interpretando-a e apreendendo-a, ele nos convida à comunhão viva com o Cristo da fé. Jesus é o Verbo, a Palavra encarnada: “e o  Verbo se fez carne” (Jo 1.2); Por Jesus, Deus continua falando, buscando a comunhão com o homem, como no início da história.

Pastor Davi Freitas
Maio de 2010



Textos para o curso de Interpretação bíblica - IB Heliópolis - Pág. 2



O QUE É INTERPRETAÇÃO?
A palavra grega (hermeneia) ocorre em 1Coríntios 12.10:
“e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas”.


Portanto, o primeiro sentido da palavra é a “tradução” de um idioma para outro. Nesse sentido, toda e qualquer versão da Bíblia é, em si mesma, uma forma de interpretação dos originais.


A palavra ocorre, também, em Lucas 24.27: “E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”


O verbo grego traduz as idéias de:
· Explicar
· Expor

Referindo-se ao sentido pretendido pelo autor do texto bíblico.
Essa é a ação do evangelista Filipe, com um etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes (At 8.25-35).

O TRIPÉ DA INTERPRETAÇÃO
  
A autoria da Bíblia é de Deus, porque ela é o registro escrito da sua revelação, mas os homens que a escreveram precisavam ser capacitados por Deus para fazê-lo. Esta capacitação é chamada na Bíblia de inspiração.
A passagem-chave para o entendimento desta palavra é 2Timóteo 3.16,17. Vale a pena ler: 
“Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra”.

Preste atenção nas palavras em destaque. 
Primeiro, quando Paulo escreve “Toda”, neste versículo, refere-se ao conteúdo total da revelação divina no Antigo Testamento. Era a Bíblia que a igreja primitiva tinha nas mãos, o livro que anunciava a vinda do Salvador. De certo, podemos aplicá-la, também, ao Novo Testamento, do qual o próprio versículo faz parte, e que se constituiria no cumprimento da revelação.


A palavra “inspirada”, por sua vez, significa “soprada por Deus”, ou seja, comunicada aos escritores por Deus, por meio do seu Santo Espírito. Para entender melhor, leia Hebreus 1.1: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo” (1.1,2).


Deus inspirou os escritores da Bíblia a escrever sua revelação, tocou-os profundamente, orientou-os na escolha e interpretação dos fatos. Por isso, podemos confiar na Bíblia.

Portanto, o tripé da interpretação:
O autor - O texto - O leitor: o leitor moderno precisa chegar ao evento narrado, descrito, vivido pelo autor. O evento não existe mais, apenas seu registro (o texto), que é o meio pelo qual o leitor tenta se aproximar do autor e de seu mundo (contexto) 

Textos para o curso de Interpretação bíblica - IB Heliópolis - Págs. 3 e 6

BREVE HISTÓRICO DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA 

A ALEGORIA
Após a morte dos apóstolos, os líderes da igreja (pastores e bispos) foram chamados “Pais da igreja” ou “Pais apostólicos”. Sua época ficou conhecida como a era pós-apostólica. Vai do século II ao século V.
Foi uma época de debates acalorados em teologia e  concílios ecumênicos para resolver questões doutrinárias.
O exame das escrituras era feito em latim (Vulgata—tradução do Velho Testamento para essa língua) e nem todos os escritos do Novo testamento eram considerados inspirados.
No ano 367 d.C., a primeira listagem conhecida dos 27 livros do Novo Testamento já é do conhecimento de todos.
Uma das questões centrais debatidas era como a igreja cristã poderia interpretar as profecias, instituições e personagens do Antigo Testamento de forma a refletir a Cristo.

Surgem duas linhas diferentes de interpretação:
1) A primeira, situada na cidade de Alexandria (Egito) interpreta a Bíblia de forma alegórica.
2) A segunda, surgida em reação à primeira na cidade de Antioquia, é mais voltada para o sentido literal do texto bíblico.
Alegorizar é o mesmo que dar um sentido espiritual ao texto literal. Esse sentido oculto do texto seria descoberto “apenas” por pessoas especiais ou espirituais. 

Exemplo literário da escola de Alexandria:
Epístola de Barnabé (cap. 6 — Nova criação)
Que lhes diz Moisés, outro profeta? "Eis o que diz o Senhor Deus: Entrai na terra boa, que o Senhor prometeu a Abraão, Isaac e Jacó. Tomai posse dessa terra, onde correm leite e mel." O que diz a sabedoria? Aprendei: "Ponde vossa esperança em Jesus, que deve revelar-se a vós na carne." Com efeito, o homem é terra que sofre, pois é da terra que Adão foi plasmado. Que significa: "Na terra boa, terra onde correm leite e mel"? Bendito seja nosso Senhor, irmãos, pois ele pôs em nós a sabedoria e o entendimento de seus segredos. (...) Depois de nos ter renovado com o perdão dos pecados, ele fez de nós um novo ser, de modo que tenhamos alma de criança, como se ele nos tivesse plasmado novamente. De fato, a Escritura fala a nosso respeito, quando ele diz ao Filho: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que eles dominem sobre os animais da terra, as aves do céu e os peixes do mar." E, vendo que nós éramos boa criação, o Senhor disse: "Crescei, multiplicai-vos e enchei a terra." Foi isso que ele disse ao Filho. Vou agora te mostrar como ele fala de nós. Ele realizou segunda criação nos últimos tempos. O Senhor diz: "Eis que faço as últimas coisas como as primeiras." Nesse sentido, assim falou o profeta: "Entrai na terra onde correm leite e mel, e dominai-a." Eis-nos, portanto, criados de novo, conforme o que ele diz ainda por outro profeta: "Eis", diz o Senhor, "que arrancarei deles" - isto é, daqueles que o Espírito do Senhor via de antemão - "os corações de pedra, e implantarei neles corações de carne." De fato, é na carne que ele devia manifestar-se e habitar em nós. Com efeito, meus irmãos, nossos corações assim habitados formam um templo santo para o Senhor. E o Senhor diz ainda: "Como me apresentarei diante do Senhor e serei glorificado?" Ele diz: "Celebrar-te- ei na assembléia de meus irmãos e cantarei teus louvores em meio à assembléia dos santos." Portanto, somos nós que ele fez entrar na terra boa.         E o que significam o "leite" e o "mel"? E porque a criança é nutrida primeiro com o mel e depois com o leite. Igualmente nós, alimentados pela fé na promessa e na palavra, vivemos dominando a terra. Ora, ele tinha dito antes: "Que eles cresçam, se multipliquem e dominem os peixes." E quem pode hoje dominar as feras, ou os peixes, ou os pássaros do céu? Devemos compreender que dominar implica poder, a fim de que aquele que ordena possa dominar. Se hoje não é assim, ele nos disse o tempo: Quando formos perfeitos para sermos herdeiros da aliança do Senhor. 
Os principais representantes desta escola são:
● Clemente de Alexandria (150 a 215 d.C.) - ele buscava identificar o sentido oculto das escrituras para harmonizar os dois Testamentos.
● Orígenes, que era discípulo de Filo e um estudioso erudito (185 a 283 d.C.) - ele dizia que a Bíblia contém segredos que somente a mente espiritual pode compreender e que o sentido primário da Bíblia é o espiritual”, que às vezes é obscurecido pelo sentido literal.

Orígenes propõe um sentido tríplice e progressivo de interpretação:
1. Carne — a interpretação literal.
2. Alma — Aqueles que fizerem algum progresso na vida cristã e começam a discernir além do óbvio.
3. Espírito — a interpretação, própria dos que são “espirituais”.

Embora tenha sido um avanço para a sua época, tal sistema de interpretação acarreta vários problemas. Posso citar 3 deles:
 1) Diminui o caráter histórico da revelação bíblica
 2) Fica à mercê do subjetivismo
 3) Cria categorias de pessoas que podem ou não interpretar a Bíblia.

Obs.: Não confundir ALEGORIA com PARÁBOLA (Embora existam textos em forma de alegoria no AT: Sl 23.1-4; Sl 80.8-16).
A alegoria é típica do pensamento greco–romano; a parábola tem sua origem no pensamento semítico.
Uma parábola usa como ilustração um fato comum do dia-a-dia e são facilmente compreendidas por qualquer pessoa que as ouça. A verdade transmitida é percebida por causa da proximidade com o cenário descrito.
Há, também, histórias contadas em forma de parábolas. Refere-se a um acontecimento em particular que teve lugar no passado, geralmente, a experiência de uma pessoa.
Na Idade Média, Hugo de S. Vitor (1096 a 1141 d.C.), por exemplo, alegorizou a parábola do bom samaritano:
Jerusalém significa a  "contemplação das coisas do alto"; quanto à viagem, esta significa “o pecado”, e Jericó "a miséria mundana", ou mesmo “o inferno”; os ladrões são “os demônios"; O samaritano representa “o próprio Cristo”...

A INTERPRETAÇÃO LITERAL
A escola de Antioquia da Síria surgiu como resposta à alegorização das Escrituras, no início do século IV. Sua ênfase era o sentido literal da Bíblia.
Seu fundador foi Luciano de Samosata (240 a 312 d.C). Fazia o melhor uso dos “originais” (texto grego do Novo Testamento). Foi martirizado por tortura e fome, por se recusar a comer carnes sacrificadas a ídolos.
Princípios hermenêuticos:
1. Sensibilidade e atenção ao sentido literal do texto (início do esforço histórico-gramatical que caracteriza a interpretação bíblica da Reforma e de hoje).
2. O conceito de theoria (intuição ou visão em que o profeta poderia ver o futuro através das circunstâncias presentes) em oposição à alegoria.
3. Sem negar a presença da linguagem metafórica, afirmavam a historicidade das narrativas do Antigo testamento e, em seguida, procuravam descobrir o sentido teológico da mesma.
4. Procuravam pela intenção do autor (sentido das palavras no seu contexto)
5. Rejeitavam descobertas arbitrárias de cristo no Antigo Testamento (ou seja, negavam que cada palavra, evento, número, personagem ou instituição fossem interpretadas alegoricamente para encontrar uma alusão a Cristo).
A força da interpretação alegórica (inclusive em alguns escritos dos antioquianos) jamais deixou de ser sentida.
Sua rigidez acabou por produzir uma tipologia cristã muito pobre...
Nunca foi o método de interpretação mais aceito, embora sua influência tenha extrapolado a cidade de Antioquia.
Os estudiosos da igreja que escreveram em latim (Pais latinos), cuja influência se perpetuou nos séculos seguintes, seguiram via de regra um sistema de interpretação semelhante ao desenvolvido pelo antioquianos.

A HERMENÊUTICA DOS PAIS LATINOS (SEC. IV E V)
Tertuliano (formado em direito romano), Jerônimo (tradutor da Vulgata), Agostinho (filósofo), Ticônio e Ambrosiaster são os mais relevantes.

1) Favorecem a interpretação literal das Escrituras
2) Dão atenção ao contexto histórico da passagem
3) Algumas vezes, alegorizam o Antigo Testamento (Agostinho tinha como convicção que o Novo Testamento encontrava-se oculto no Antigo e que o Antigo Testamento era iluminado pelo Novo Testamento)
4) Segndo eles, as passagens mais obscuras devem ser interpretadas à luz das mais claras (por causa da unidade das Escrituras)
5) Harmonia com a regra da fé da igreja (a tradição da igreja tornava a interpretação uma ação “fechada” ao círculo de mestres e doutores)
Ocorre o uso institucional da Bíblia — O modelo ATA (Alegoria, Tradição, Autoridade) estabelece um conceito de Bíblia que o vincula a uma interpretação tradicional construída dentro da possibilidade hermenêutica de várias interpretações estruturalmente equivalentes, segundo a metodologia que pressupõe, e que apenas se mantém não como recurso ao texto da Bíblia, mas à autoridade da Igreja.
A partir de Tertuliano, ser cristão é submeter-se a uma instituição hierárquica, estruturada por um código canônico tradicional, por uma tradição inconteste – que deve ser e manter-se incontestável.
A Igreja é possuidora legítima da fé; a ela pertencem também as Sagradas Escrituras. Os hereges não têm direito algum de precisar o sentido das Sagradas Escrituras. A regra de fé, isto é, a doutrina das Igrejas apostólicas, determina qual o âmbito e o conteúdo da fé.


DA IDADE MÉDIA AO SÉC. XX
Para uma boa interpretação bíblica, o texto tinha que ter quatro níveis de significação:
A letra mostra-nos o que Deus e nossos pais fizeram (histórico)
A alegoria mostra-nos onde está oculta a nossa fé (alegórico)
O significado moral dá-nos as regras ocultas da vida diária (tropológico)
A anagogia mostra-nos aonde termina a nossa luta (anagógico)

REFORMA PROTESTANTE
Influência da Renascença... A Renascença que teve início na Itália reavivou o interesse pela literatura clássica, incluindo o hebraico e o grego. Durante a Reforma a Bíblia passou a ser a única fonte legítima para nortear a fé e a prática. Os reformadores utilizavam como base o método literal que a escola de Antioquia. Afirmavam que não era a igreja que determinava o que as Escrituras ensinavam, mas tinha que acontecer ao contrário, isto é, as Escrituras que determinavam o que a igreja deveria ensinar. Surgiram dois princípios fundamentais:
1) Scriptura scripturae interpres (Escritura é intérprete da Escritura);
2) Omnis intellectus ac expositio Scripturae sit analogia fidei (Toda compreensão e exposição da escritura seja de acordo com a analogia da fé).
Lutero acreditava que a fé e a iluminação do Espírito Santo eram requisitos indispensáveis para o intérprete da Bíblia. Para ele, a Bíblia deveria ser vista com olhos diferentes dos que olham para qualquer outra literatura. Rejeitou o sentido quádruplo de interpretação, o qual predominou no período medieval e ressaltou o sentido literal (sensus literalis). Lutero prestou um grande serviço à nação alemã ao traduzir a Bíblia para o alemão vernáculo.

PREDOMINÂNCIA DO MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL
 Philip Melanchthon (1497-1560) - Era um profundo conhecedor do hebraico e do grego, por isso era um intérprete admirável e prudente. Tinha como princípios para a sua exegese que as Escrituras deviam ser entendidas gramaticalmente antes de serem teologicamente e que as mesmas têm um simples e determinado sentido.

CALVINO
A virtude do intérprete era "permitir que o autor diga o que realmente diz, ao invés de lhe atribuirmos o que pensamos que devia dizer". Preferia fazer a exegese do que a eisegese. Sua frase predileta era A Escritura interpreta a Escritura, por isso se apegou à exegese gramatical e ao contexto de cada passagem.

RELAÇÃO CONFLITIVA COM A IGREJA CATÓLICA
 Reforma foi realmente uma revolução que mexeu com muita gente e teve grandes repercussões. Todavia o maior problema não foi a Reforma em si, mas os seguidores de Lutero, Calvino, Zwínglio e etc; porque se preocuparam em atacar a Igreja Católica Romana, ao invés de continuarem a seguir a ênfase dada à fé e a revelação para a interpretação.

PLURALIZAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO: O CONFESSIONALISMO (DOGMATISMO)
Usar a Bíblia como texto-prova. Como já foi visto, os protestantes estavam divididos, isto é, havia muitas facções e cada uma procurava uma forma de defender a sua opinião apelando para as Escrituras. Quase todas as cidades importantes tinham o seu credo predileto, juntamente com as controvérsias teológicas. Os métodos hermenêuticos neste período estavam se tornando escravos da dogmática.

O MOVIMENTO PIETISTA (Sec. XVII)
O pietismo contribuiu muito para o estudo das Escrituras. Eles tinham tanta vontade de
entender e de se apropriar delas que, em alguns momentos, apreciaram a interpretação
histórico-gramatical. Os mais recentes a descartaram e passaram a depender de uma luz
interior ou uma unção do Santo. O problema dessas manifestações subjetivas e de suas
reflexões piedosas provocaram muitas interpretações contraditórias até mesmo com a
vida do autor. Este fato de terem a edificação como alvo tão desejado os levou a desprezar a ciência. Dentro de sua ótica o estudo gramatical, histórico e analítico da Palavra de Deus produzia apenas o conhecimento externo e superficial do pensamento divino, enquanto que o que tirava conclusões para a repreensão e o que consistia em oração e lamentação penetrava no âmago da verdade.

DESDOBRAMENTOS DO RACIONALISMO
Surgiu como importante modo de pensar, com o intuito de criar um profundo efeito sobre
a teologia e a hermenêutica, porque era uma posição filosófica que aceitava a razão como
única autoridade que determinava as ações de alguém. Como movimento durou cerca de
100 anos. João Ernesti que foi o fundador da escola gramatical de interpretação; João Semler que foi o fundador da escola histórica de interpretação bíblica e considerado o pai do racionalismo.

LIBERALISMO E NEO-ORTODOXIA (tentativas de adequar a fé à razão)
- 2º guerra mundial
-desilusão em relção ao homem
-evangelho social
-subjetivismo

O século XX abrigou muitas correntes de interpretação bíblica, entre elas havia a escola
liberal que apresentava Jesus como um grande mestre de ética, ao invés de Salvador.
Neste período surgiram alguns estudiosos que chegaram a negar totalmente o caráter
sobrenatural da inspiração; outros não a mencionavam como sendo uma iluminação de
Deus sobre os seus autores. Para alguns a inspiração estava ligada à capacidade da
Bíblia em inspirar uma experiência religiosa, sendo que a Bíblia fora produzida por
humanos.

A neo-ortodoxia teve alguns aspectos intermediários entre o liberalismo e a ortodoxia e
foi um fenômeno do século XX. Ela acabou com a idéia de que a Bíblia era fruto da mente
religiosa humana, mas também não concordava que as Escrituras fossem um fruto
somente divino. Para eles as Escrituras registram o testemunho do homem a respeito da
revelação que Deus faz de si mesmo. A Bíblia é vista como um compêndio de sistemas teológicos as vezes conflitantes, acompanhados por diversos erros fátuos. Desta forma há uma negação por parte deles às questões relacionadas a infalibilidade e a inerrância. Todos os fatos históricos referentes ao sobrenatural e ao natural são vistos como mitos, a saber, não ensinam a história literalmente. Já os mitos bíblicos (criação, ressurreição) mostram as verdades teológicas na forma de incidentes históricos.

Uma citação de um site que se pretende "racionalista":
"A evolução desbanca a criação do homem. Isso nos leva a concluir que o pecado original é um conto fantasioso. Se não houve o pecado original, então toda expiação fica sem sentido. Se a expiação não faz sentido, então a idéia de um Salvador que  morreu por nós na cruz cai por terra. E, com isso, os 2000 anos de cristianismo se tornam apenas o que é, uma história de ignorância e fé num falso mito perpetuada através de guerras e perseguições, intolerância e fanatismo, uma grande farsa sustentada através do medo e da culpa, a Grande Farsa Cristã."
(http://www.mphp.org/religiao-e-seitas/a-grande-farsa-crista..html)

____________________
LIVROS CONSULTADOS:
ZUCK, Roy B. A Interpretação Bíblica, meios de ... SP: Vida Nova, 1997. p.
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica, Princípios e Processos de Interpretação Bíblica. SP:
Vida Nova, 1996. Tradução de 'Hermeneutics - Principles and Processes of Biblical Interpretation'. 197p.
BERKHOF, Louis. Princípios de interpretação bíblica. Trad. de Merval Rosa. 4a ed. RJ: JUERP, 1988. Tradução de 'Principles of Biblical Interpretation'.

Textos para o curso de Interpretação bíblica - IB Heliópolis - Pág. 7

POR QUE INTERPRETAR A BÍBLIA?

Você morreria pelo direito de ler a Bíblia e interpretá-la? Um dos mais importantes tradutores da Bíblia, no século XVI, o fez. Trata-se de William Tyndale. Este sacerdote desejava traduzir a Bíblia para o inglês. Condenado e culpado por heresia, ele foi acorrentado a uma estaca, estrangulado com uma corda e, então, queimado. Ele é um dos muitos heróis que deram a vida para que os homens pudessem ter o direito de ler a Bíblia e interpretá-la, depois do movimento da Reforma Protestante de Lutero.
Tyndale demonstrou, com seu testemunho, o valor incalculável da Bíblia. Vamos estudar sobre o valor da Bíblia para a nossa vida.
O apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, disse: “Toda Escritura é... proveitosa” (2Tm 3.16). A palavra significa “útil”, “benéfica”.

A Bíblia tem valor didático
A primeira afirmação de Paulo acerca do proveito da Bíblia é sua utilidade didática: “Toda Escritura é... proveitosa para ensinar”.
Para ter valor didático, a Palavra de Deus precisa ser ouvida
Para ter valor didático, a Palavra de Deus precisa ser aprendida.
Para ter valor didático, a Palavra de Deus precisa ser ensinada

A Bíblia tem valor disciplinar
 “Toda Escritura é... proveitosa para repreender, para corrigir...”
O propósito divino é de nos fazer viver em harmonia com ele. Isto é disciplina.

A Bíblia tem valor ético-moral 
“Toda Escritura é... proveitosa... para instruir em justiça”.

A LITERATURA BÍBLICA — CÓDIGOS E LEIS

Antes de continuar, faça a leitura silenciosa de Êxodo 20.1-17.
Este código de leis foi decretado por Deus no Monte Sinai e por ele escrito em duas tábuas de pedra. Este código se constituía na lei fundamental da nação hebraica. O interessante é que, por volta de 1.750 a.C., um rei babilônico chamado Hamurabi criou um código de leis que tem semelhanças com a lei de Moisés.
Faça o exercício (Data show—transparência 1) para entender melhor o conteúdo das leis de Deus.
O contexto histórico de produção do texto é importante.
   · Por quem forma escritas?
   · Quando foram escritas?
   · Por que foram escritas?
   · Para quem foram escritas?
   · Que ordens foram dadas?

Textos para o curso de Interpretação bíblica - IB Heliópolis - Pág. 8


Literatura bíblica — narrativas

 Antes de continuar, faça a leitura silenciosa de Gênesis 37.1-36.
Para entender as narrativas bíblicas, você deve considerar alguns fatos:
• Os comportamentos descritos nas narrativas não estão ali para serem repetidos. Alguns deles são graves violações das leis de Deus. Isso demonstra nossa natureza humana decaída por causa do pecado.
• Há um plano maior por detrás de cada história bíblica. Deus é a principal personagem do Antigo Testamento. No caso específico de Gênesis 37, Deus faria de José o homem mais importante do Egito, abaixo apenas do Faraó. Numa época de grande fome na Palestina, José foi capaz de manter vivo o povo de Deus, pois da descendência dele, muitos anos depois, nasceria o Messias.
• É preciso ter uma visão geral da história de Israel, para melhor perceber como a narrativa, que está sendo lida, se encaixa no plano de Deus para o seu povo. A vida das grandes personagens bíblicas inspira mas, também, nos exorta, quando as narrativas demonstram que o homem falhou na hora de obedecer ao Senhor. José é um excelente exemplo de obediência: ele perdoou seus irmãos, porque sabia que Deus estava por detrás dos eventos vividos por ele. Por outro lado, o comportamento invejoso de seus irmãos nos serve de alerta. Muitas famílias são destruídas por este pecado.

A Literatura Bíblica — profecias

Antes de continuar, faça a leitura de Isaías 53.1-12. Nesta passagem, temos um exemplo clássico de uma profecia messiânica: aquela mensagem que anuncia a vinda do Salvador, Jesus Cristo, nosso Senhor. Se você quiser ler sobre o cumprimento desta profecia, abra a Bíblia em João 19. Jesus, diante de Pilatos e dos religiosos judeus, calado, açoitado e, enfim, crucificado, confirma a profecia de Isaías.
Profecias são mensagens de Deus ao povo, por meio de um homem inspirado por ele. Estas mensagens propõem atitudes de arrependimento e confissão de pecados, de volta a Deus e à sua vontade, de manifestação de fé na aliança iniciada pelo Salvador com o povo. Infelizmente, os homens tornaram as profecias em algo inútil, pois cerraram os seus ouvidos à voz de Deus. Exercício (Data show—transparência 2)

Literatura Bíblica — Escritos sapienciais

Outro exemplo de literatura bíblica é a poesia. A coleção de poesias mais conhecida na Bíblia é o livro de Salmos. Neste caso, as poesias eram cantadas durante as reuniões dos judeus no templo e na sinagoga. Há, ainda, os livros de Provérbios e Eclesiastes. No Novo Testamento, apenas algumas passagens foram escritas em forma de poesia.
Antes de continuar, faça a leitura de 1Coríntios 13.1-13. Eis um exemplo clássico de poesia bíblica. O uso deste modo particular de escrita causa forte impacto no leitor. Isso é assim, porque fala dos sentimentos mais profundos da alma, desvenda muitos mistérios da vida e propõe modos de conduta dignos de um servo de Deus.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Textos para o curso de Interpretação bíblica - IB Heliópolis - Pág. 9

LITERATURA BÍBLICA - EPÍSTOLAS

Leia, cuidadosamente, 2Pedro 3.14-18. Nela, Pedro cita as obras escritas por Paulo às igrejas, denominando-as epístolas, ou seja, cartas endereçadas às igrejas recém-formadas pelo apóstolo em suas viagens missionárias.

Eis alguns cuidados que devemos ter, ao estudar as epístolas:

• As cartas podem ser mal interpretadas, se as lermos como se tivessem sido escritas para nós, em vez de para a sua própria época.
• Ao mesmo tempo, quando compartilhamos situações comparáveis a dos cristãos que foram os destinatários das cartas, devemos entender que a Palavra de Deus para nós é a mesma que foi para eles.
Para entender melhor, preencha a tabela a seguir, a partir da leitura de 1Coríntios 11:

Texto
Costume da época
v. 6,10



Como você pode perceber, o uso do véu pela mulher, em Corinto é uma questão cultural daquela época. As mulheres da igreja, hoje, não precisam usar véus nem manter seus cabelos compridos para agradar a Deus.
No início da era cristã, as cartas já eram usadas pelos escritores bíblicos, como formas de instrução, de encorajamento e, também, de correção. Cartas eram dirigidas a pessoas, grupos de pessoas, igrejas em particular, como as cartas às 7 igrejas da Ásia (Ap 2,3).
Essas cartas falam das percepções de Cristo sobre as comunidades cristãs. Cinco delas soam como fortes repreensões de comportamentos errados das igrejas. Outras duas igrejas são elogiadas e encorajadas:

Exercício:
1) Identifique as repreensões de Cristo às igrejas.
2) Identifique o encorajamento de Cristo às igrejas .
Exercício - Data Show (transparência 3)


INTERPRETANDO PARÁBOLAS DO NOVO TESTAMENTO
Leia, cuidadosamente, a parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37). Neste formato literário, situações da vida real, na Palestina do tempo de Jesus, são usadas para fazer uma comparação, explicar um conceito religioso, ensinar sobre Deus.

Parábolas existem por toda a Bíblia. Jesus usa muito este estilo, na forma oral, para ensinar. Os evangelistas registraram as conversas de Jesus com as pessoas, deixando-nos muitas das mais belas passagens bíblicas.
Um cuidado que se deve ter, ao ler parábolas, é reconhecer que as personagens são tiradas da vida real, mas permanecem como material ilustrativo. Na parábola do bom samaritano, por exemplo, Jesus escolhe como ator principal uma pessoa odiada pelos judeus. Sendo judeu aquele que estava conversando com Jesus, e sendo a mensagem central o amor ao próximo, o impacto causado por Jesus foi imenso.


Um exemplo de parábola no Novo Testamento
 A parábola da semente de mostarda (Mc 4.30-32).
1) Ela focaliza o mistério do crescimento do reino de Deus;
2) Encontra-se na sequência da parábola do semeador.
3) Ambas ocorrem dentro de um mesmo contexto: Após lançar as sementes, o semeador continua sua vida normalmente, dorme e levanta cada noite e cada dia até que um dia vê as sementes germinando, e se maravilha. A parábola ensina que o homem não pode interferir no processo de crescimento. Este é dado por Deus (1Co 3.8). A parábola ensina, também, o caráter sobrenatural e escatológico do reino. Por sobrenatural, entendemos que somente Deus pode fazê-lo crescer; quanto ao caráter escatológico, significa que a semeadura é o próprio ministério de Jesus e a ceifa será o ato da consumação do reino. A missão hermenêutica é encontrar:
· Significado;
· Lição;
E, então, traduzir essa lição para o nosso próprio contexto.
São, quase sempre, ditas por Jesus, veículos de proclamação do reino de Deus.
· Proximidade do juízo;
· Necessidade de ouvir as boas-novas;
· Momento decisório.


Textos para o curso de Interpretação bíblica - IB Heliópolis Pág. 10


Modelo de interpretação histórico-social (O que o autor disse)

1. O texto das Escrituras é resultado de um processo de revelação e inspiração, circunscrito histórico-socialmente e delimitado por um cânon tradicionalmente acatado.



2. A interpretação histórico-social da Bíblia posiciona-se favoravelmente à intentio auctoris (A INTENÇÃO DO AUTOR). O texto bíblico que tem diante de si representa o registro daquele acontecimento. A interpretação histórico-social não prescinde do evento – não o substitui pelo texto, como se a intentio operis se lhe bastasse. Busca compreender desde as circunstâncias condicionantes em que o evento se deu. Nesse sentido, não é a letra que lhe interessa, mas a vida registrada na letra – o acontecimento histórico-social consignado no texto.

3. Por outro lado, o evento extinguiu-se – resta o texto. O texto, portanto, é a ponte entre o leitor e o evento, i. é, entre o horizonte onde se produz a leitura e o horizonte onde se produz a escrita. O autor, seu contexto, suas intenções e seus condicionamentos, seu tempo e lugar, seus destinatários, se é aí onde pretende chegar a leitura histórico-social da Bíblia, é a partir do texto, no entanto, que deve começar. Nesse sentido, o texto é preciosíssimo, incontornável, prioritário.

4. A prioridade do texto implica em alguns passos metodológico:                        
           a) compreender palavra a palavra a partir da visão do próprio texto. Trata-se de um exercício de reconstrução. O círculo hermenêutico está representado pela condição de que o sentido de cada palavra do texto prende-se ao sentido do texto como um todo, ao passo que o sentido do texto integral deriva do conjunto dos sentidos das palavras que o compõem. Trata-se de uma relação sintática e hermenêutica.

b) compreender os conjuntos mínimos de idéias constituídas pela frase. Trata-se da abordagem sintática. Enunciados de idéias são apresentados em formações sintáticas menores. A soma dessas unidades constitui um enunciado estrutural. Na prática, consiste num esforço metodológico de compreensão das palavras, das frases e dos parágrafos, sempre a partir do próprio texto e – jamais, a partir do horizonte semântico do leitor.
 c) nesse processo, deve o leitor fazer um esforço por calar-se. Trata-se de um silêncio metodológico – são os seus conceitos que devem ficar quietos, não sua consciência. Esta deverá estar atenta, com rigor, ativa, fazendo as perguntas necessárias ao texto. Mas sua visão de mundo deve dar lugar ao esforço voluntário e honesto, metodológico e rigoroso por compreender a visão de mundo do texto – a saber, do horizonte em que a grandeza autor se insere e a partir da qual fala.
d) segue-se o esforço por identificar os blocos de idéias. Os enunciados caminham para a formação de blocos de idéias. Todos textos bíblicos constituem-se sob estruturas específicas, que se traduzem na forma de blocos sintático-semânticos de idéias que se interrelacionam.

e) deve-se perguntar pela relação entre os blocos de idéias. Tais blocos constituem, cada um segundo sua função sintática, as seguintes peças do texto: idéia central; idéias secundárias; argumento central; argumentos secundários. É dever do leitor identificar rigorosamente tais peças. Sem isso, é impossível, por exemplo, resumir o texto.
f) deve-se perguntar, sempre, qual a relação entre as palavras, a frase, os parágrafos, os blocos unitários de idéias e o texto como um todo com o evento por detrás do texto. Não é o texto em si, mas o evento, em última análise, que está sendo perscrutado. É um homem que fala. Que fala ele? Por quê? Para quê? Para quem? Quando? Onde? Como? Quem representa? Que pensa de Deus, do homem, do mundo, da vida? São essas perguntas as perguntas que, a seu tempo, devem dirigir a compreensão do texto. O texto é meio – não fim.
_______________________
Prof. Dr. Oswaldo Luiz Ribeiro (http://www.ouviroevento.pro.br/teologicofilosoficos/hermeneutica_e_interpr.htm#_ftn10).



Textos para o curso de Interpretação bíblica - IB Heliópolis - Pag 11

DOCUMENTOS BATISTAS SOBRE A BÍBLIA

DECLARAÇÃO DOUTRINÁRIA

I - ESCRITURAS SAGRADAS
A Bíblia é a Palavra de Deus em linguagem humana.(1)
É o registro da revelação que Deus fez de si mesmo aos homens.(2)
Sendo Deus seu verdadeiro autor, foi escrita por homens inspirados e dirigidos pelo Espírito Santo.(3)
Tem por finalidade revelar os propósitos de Deus, levar os pecadores à salvação, edificar os crentes, e promover a glória de Deus.(4)
Seu conteúdo é a verdade, sem mescla de erro, e por isso é um perfeito tesouro de instrução divina.(5)
Revela o destino final do mundo e os critérios pelos quais Deus julgará todos os homens.(6)
A Bíblia é a autoridade única em matéria de religião, fiel padrão pelo qual devem ser aferidas a doutrina e a conduta dos homens.(7)
Ela deve ser interpretada sempre à luz da pessoa e dos ensinos de Jesus Cristo(8)
(1) Sl 119:89; Hb 1:1; Is. 40:8; Mt 24:35; Lc 24:44,45; Jo 10:35; Rm.3.2; 1Pd 1:25; 2Pd 1:21
(2) Is 40:80; Mt 22:29; Hb 1:1,2; Mt 24:35; Lc 24:44,45; 16:29; Rm 16:25,26; 1Pd 1:25
(3) Êx 24:4; 2Sm 23:2; At 3:21; 2Pd 1:21
(4) Lc 16:29; Rm 1:16; 2Tm 3:16,17; 1Pd 2.2; Hb 4.12; Ef 6:17; Rm 15:4
(5) Sl 19:7-9; Sl 119:105; Pv 30:5; Jo 10:35; 17:17; Rm 3:4; 15:4; 2Tm 3.15-17
(6) João 12:47,48; Rm. 2:12,13
(7) 2Cr 24:19; Sl 19:7-9; Is 34:16; Mt 5:17,18; Is 8:20; At 17:11; Gl 6:16; Fl 3:16; 2Tm 1:13
(8) Lc 24:44,45; Mt 5:22,28,32,34,39; 17:5; 11:29,30; Jo 5:39,40; Hb 1:1,2; Jo 1:1,2,14

PRINCÍPIOS BATISTAS
Sobre as Escrituras, os nossos princípios doutrinários afirmam a Bíblia como revelação inspirada da vontade divina, cumprida e completamente na vida e nos ensinamentos de Jesus Cristo, é a nossa regra autorizada de fé e prática.
“A Bíblia fala com autoridade porque é a palavra de Deus. É a suprema regra de fé e prática porque é testemunha fidedigna e inspirada dos atos maravilhosos de Deus através da revelação de si mesmo e da redenção, sendo tudo patenteado na vida, nos ensinamentos e na obra salvadora de Jesus Cristo. As escrituras revelam a mente de Cristo e ensinam o significado de seu domínio. Na sua singular e única revelação da vontade divina para humanidade, a Bíblia é autoridade final que atrai as pessoas a Cristo e as guia em todas as questões de fé cristã e dever moral. O indivíduo tem que aceitar a responsabilidade de estudar a Bíblia, com a mente aberta e com atitude reverente, procurando o significado de sua mensagem através de pesquisa e oração, orientando a vida debaixo de sua disciplina e instrução.”

PACTO DOS BATISTAS

O que diz o Pacto dos Batistas sobre a Bíblia? No segundo parágrafo, o pacto inicia assim: “Comprometemo-nos a, auxiliados pelo Espírito Santo, andar sempre unidos no amor cristão; trabalhar para que esta igreja cresça no conhecimento da Palavra, na santidade, no conforto mútuo e na espiritualidade...”



Textos para o curso de Interpretação bíblica - Pag 12


Uma palavra papal contra a exegese crítica — e considerações...

O aparecimento do método histórico-crítico inaugurou uma nova época na história da interpretação bíblica. Com este método surgiram novas possibilidades de compreender o texto bíblico em sua originalidade.
Como tudo o que é humano contém também este método, ao lado de suas possibilidades positivas, certos perigos:
(1) a busca do sentido original pode levar a se reter completamente a Palavra no passado e a não permitir que seja percebida em sua atualidade.
(2) Com isto pode deixar somente a dimensão humana da Palavra aparecer como real, enquanto o autor mesmo, Deus, encontra-se fora do alcance, por se tratar de um método que foi elaborado precisamente para a compreensão das realidades humanas.
(3) O emprego de um método « profano » na Bíblia deveria provocar debates:
   a) Tudo o que ajuda um melhor conhecimento da verdade e uma disciplina das próprias representações é útil e valioso para a Teologia. Neste sentido deve este método encontrar acolhida no trabalho teológico.
   b) Tudo o que limita nosso horizonte e nos impede de olhar e escutar o que está para além do meramente humano deve ser rompido.
 _________________________________________________________
 Prefácio do (à época) Cardeal JOSEPH RATZINGER (atual Papa Bento XVI)
 ao documento “A interpretação da Bíblia na Igreja”

COMENTÁRIO

Ratzinger flerta com o inimigo. Ciência é fé não são amigos muito chegados. Se conhecem e se respeitam, mas cada qual no seu devido lugar.
Não creio que os homens usem o método histórico-crítico e saiam ilesos da interpretação.
Isso é contrário à própria natureza do método, que visa usar o texto como meio e ter no fim uma hipótese... Algo transitório e, por isso, aberto a novas compreensões.
Nós flertamos com o inimigo... Mas temos que correr os riscos, porque vivemos num mundo racional e científico. Não há outra forma de abordar a Bíblia em busca da reconstrução histórico social que não seja científica e, por isso, crítica.
Muitos resultados desse método são o que Umberto Eco chama de “superinterpretações”, ou seja, leituras inadequadas de uma obra ou texto, más interpretações.
A verdade que procuramos no texto está, em última análise, relacionada à fé, pois é dirigida a Cristo... Sabedoria de Deus...


TEXTO DE FECHAMENTO DO CURSO



Um amigo dos tempos do Seminário, hoje Doutor em Teologia, bate na tecla de que devemos ouvir o evento... Para ele, o texto é um meio, isto é, uma ponte para que o leitor indague e escute o que foi dito (escrito) — É a interpretação que privilegia a intentio auctoris.
Há aqueles que acham essa tarefa impossível e, de modo estruturalista, trabalham a interpretação privilegiando a intentio operis, ou seja, o texto substitui o evento e se basta a si mesmo.
Há, também, aqueles que interpretam a partir de suas próprias ideologias, é a intentio lectoris, ou seja, a intenção do intérprete (leitor), como aparecem nas leituras interpretativas de gênero (por exemplo, feministas), de raça, ecológicas etc.
Penso que há ciência nas três abordagens, há método nas três abordagens e, também, há valor nas três abordagens.
Eu leio (interpreto) o texto como forma de me comunicar com Deus e ouvi-lo falar comigo, indagar-me, impelir-me em direção à sua vontade. Para fazer isso, valho-me da intentio operis. Entendo que a Bíblia é a Palavra divina para mim, e, com auxílio do Espírito Santo, autoridade sobre mim: Deus vai falar.
Mas leio (interpreto), também, como forma de saber como Deus falou com os homens, por meio dos escritores inspirados. Esse esforço de voltar e indagar “quem disse o quê para quem com que propósito e por quê”  é intentio auctoris.  Algo muito difícil de fazer e de resultados, por vezes, inconclusos. Mas não desanimo facilmente.
Como quem lê (interpreta) sou eu, Davi, minha leitura é única e completamente pessoal. Eu interfiro na interpretação pelo simples fato de ler, e minha formação e caráter estão por detrás de cada aproximação que faço da Bíblia. É a intentio lectoris em ação.
Eu aprendi , há tempos, que, em se tratando de Bíblia, preciso me calar... Preciso ouvir... Preciso obedecer... E você, já aprendeu?  Que Deus nos ajude...
_________________
Pr Davi freitas de Carvalho
JUERP, RJ
Maio de 2010